Este Blog...

É fruto da maneira como vejo o mundo. Aceitam-se discordâncias e divergências, sempre dentro de uma lógica de boas maneiras, claro!

Sejam bem-vindos!

Wednesday, June 30, 2010

A partir de hoje...

A partir de hoje numa nova morada...

http://barradasruben.wordpress.com/

Continuarei a postar aqui também durante algum tempo, mas passarei a usar o blog citado acima como o principal.

Desilusão Mundial

Conciso e directo. Cumprimos os serviços mínimos. E nada mais. Nem brilhantismo, nem mobilização da nação, nem excepcional superação dos jogadores. Empate com Costa do Marfim e Brasil, vitória a Coreia do Norte (o que era ‘obrigatório’), e derrota com Espanha, ou seja, apenas ganhámos aos ‘menos fortes’ de todos os adversários que defrontámos. Contra quem estava ao nosso nível não conseguimos mais que empates a 0. Parece-me pouco. Mas vamos por partes.

O mundial não está a ser excitante, longe disso. Uma Alemanha que vai roçando o brilhante, uma Argentina que se vai valendo de ter 500 soluções no ataque, um Brasil chato e sensaborão, uma Holanda assim-assim, e pouco mais. Portugal sai deste mundial sem chama nem glória. Ninguém se lembrará de nada da nossa selecção, e é isso que me preocupa. Não fizemos nada que possa vir a ser lembrado, até porque depois dos 7 à Coreia, nos limitamos a 3 zeros contra os restantes adversários, o que é muito pouco para uma equipa que nos habituou a ver o jogo pela positiva (ataque) e a querer vencer o jogo desde o primeiro minuto (o que acontecia na era Scolari...). Desta vez fomos brindados com uma equipa defensiva, sem soluções atacantes, remetida à sua defesa em grande parte do tempo. Era necessário ter sido assim? Não, não era, pelo menos em todo o tempo. Eu sei que a Espanha e o Brasil são-nos superiores (só não vê quem não quer), mas jogar à equipa pequena, naquela táctica de ‘tudo à defesa e depois logo se vê se salta um coelho da cartola’ dificilmente produziria outro resultado. A derrota de ontem foi um bom exemplo. Portugal preparou bem o jogo, e excepção feita aos primeiros 10m, controlámos a Espanha com inteligência. Até àquela substituição do Hugo Almeida. Ao tirar o único ponta-de-lança, Queiróz cometeu dois erros, um táctico, e outro de mensagem. O erro táctico não sou competente para o discutir, mas parece-me óbvio pelo resultado que se seguiu. Mas o erro na mensagem foi o pior. Ao tirar o único ponta-de-lança, passou à sua equipa uma ideia defensiva que não se justificava na altura, e deu aos espanhóis a mensagem de que seriam eles a ter de assumir o jogo, e que nós lá estariamos na expectativa...

E Ronaldo? Vejo-o quase todas as semanas no Real e não parece o mesmo. Explicações? Joga mais atrás do que no clube (devido à táctica portuguesa), a atitude individualista é um facto, e parece-me que o vedetismo atinge na selecção proporções inimagináveis. Quatro jogos e zero Ronaldo foi o resultado CR deste mundial. E se Queiróz tivesse tido a coragem de o substituir? Faltou coragem? Sim, faltou. Mas faltou, acima de tudo, humildade e brilhantismo de Ronaldo.

E Queiróz? Excessivamente defensivo desde o dia da convocatória. Muitos defesas e poucos atacantes. Ontem, de ataque, só tínhamos Liédson no banco...pouco, muito pouco. A convocatória anunciava uma equipa defensiva, de contenção, sem brilhantismo, mas com trabalho. Com Queiróz, a selecção vestiu o fato-macaco, mas despiu o smoking. Ganhou sentido colectivo (excepto Ronaldo), mas perdeu o brilhantismo que a caracteriza. Ganhou segurança defensiva, mas perdeu qualidade atacante. Esperemos que mude no próximo Euro, mas sinceramente, duvido. Queiróz é assim, defensivo, pouco dado a riscos, pouco interessado em assumir o jogo. Não creio que historicamente sejamos capazes de jogar assim. Fomos feitos para jogar para a frente, não em contenção, e sempre que o fizemos não tivemos sucesso. Esperemos que isto mude, e que da próxima, Queiróz nos leve à glória...

Uma palavra a Eduardo. Ganhou o lugar e é o guarda-redes de Portugal, sem dúvida. Excelente mundial, excelente atitude e dignidade na hora de sair. Temos guarda-redes até 2014/2016. Outra a Coentrão. Extraordinário, o melhor atacante português (o que, tendo em conta que foi o lateral-esquerdo, mostra o nível do ataque português...), tirou todas as dúvidas e devorou a clubite de alguns que o desprezavam enquanto defesa-esquerdo. Juntamente com Eduardo, o melhor português. Também palavra a Deco. Despediu-se da selecção com uma teimosia do sr. Queiróz, sem glória nem brilho. Durante 7 anos foi um dos abonos de família da selecção e teve sempre uma atitude digna, mesmo depois de um ou outro exagero. Merecia um final mais bonito. E agora quem o substitui? Palavra final a Raúl Meireles. Ontem esteve uns furos abaixo, mas foi um dos melhores, e mais raçudos da equipa.

Esperamos pelo Euro 2012. Que por essa altura já tenhamos mais opções e sejamos melhores do que fomos desta vez. Assim o espero eu e um país inteiro. E agora voltemos ao país real...

Tuesday, June 22, 2010

Língua, linguagem e....como disse?

A linguagem

Há quem a encare como um formalismo, um somenos quando comparada com o talento ou a capacidade. Há quem lhe reconheça a importância, mas lhe delegue um papel futuro secundário. Há quem diga que ela é tudo, que está em tudo, e que representa todas as coisas. Há quem não diga nada…





…e a ignore por completo, como se ignorar não fosse também linguagem. E há quem diga mal de tudo o que ela é, só pelo que ela é, como se ela pudesse ser menos importante do que realmente é. Há quem não assuma o seu grau de indispensabilidade e há quem viva fixado por ela. Há de tudo, na linguagem…

Linguagem. Porquê linguagem?

De que serve o que eu digo se ninguém me compreende? De que serve a mensagem que eu torno tangível em linguagem se dela não advém qualquer resultado concreto, vertido na compreensão alheia da minha expressão? De que serve ouvir se não compreendo? De que serve a mensagem que colocamos na linguagem se esta não é inteligível por parte de quem a recebe? De que serve? Que erro tremendo, meu Deus, que erro tremendo, falar sem saber se quem ouve percebe…que tempo perdido é escrever sem saber
se quem lê percebe o que queremos dizer com cada caracter que usamos…que desperdício de raciocínio é formulá-lo e verbalizá-lo, sem que disso se traduza a compreensão por parte de uma segunda pessoa. Que desperdício…

Quantas vezes terei entrado, eu e tu, num sítio onde a linguagem parece saída de uma série de anime (desenhos animados) japoneses? Quantas vezes terei ouvido, eu e tu, um discurso imperceptível, cheio de expressões exclusivas a determinado tempo ou a determinado grupo, ou a determinado propósito? Quantas vezes terei, eu e tu, visto a desgraça em que se tornou a graça de um discurso sem nexo, impossível de assimilar?

Isto não me preocuparia se fosse mecânico, piloto de aviões ou economista. Mas preocupa-me porque um dos meus ‘trabalhos’ é que ‘pessoas entendam a mensagem’. Medina Carreira não se preocupará certamente que as pessoas entendam a diferença entre PIB real e PIB nominal. Carlos Sousa não terá no topo das suas preocupações esclarecer quem não sabe a diferença entre uma caixa manual e uma automática. José Mourinho não estará minimamente preocupado que os tiffosi (agora os madridistas) sejam capazes de distinguir entre um trinco e um armador de jogo. E eu? Estou preocupado na possibilidade de alguém não estar a perceber o que estou a dizer?

Adoro música e adoro falar em público. E por isso penso em linguagem. Já vi guitarristas que conseguem ‘falar’ mais do que oradores após 30 minutos de discurso. Considero estas actividades os pontos máximos que distinguem a importância da linguagem. Ambas são acerca da expressão, mas ambas são acerca do público. Nenhuma arte faz sentido sem público, pelo que nenhuma arte pode perder o sentido de linguagem e a possibilidade de esta ser perceptível pelo receptor.

É trágico ver que tanta gente mata a mensagem, quando ela é tão boa. É trágico ver quando a mensagem é maltratada pela linguagem. É ainda mais trágico ver que dizemos uma coisa, mas falamos outra. Mas mais trágico do que tudo isto é ver quem não compreende este ‘fenómeno’ (uau, como se a história da humanidade não fosse toda acerca disto...), quem não compreende que linguagem é ‘só’ essencial, e que sem uma mensagem bem construída, coerente e capaz, é impossível passar qualquer ideia, por mais simples que seja. Pelo menos uma mensagem que as pessoas queiram ouvir. Da última vez que me lembro, era esse o ‘nosso’ objectivo.

‘Ninguém me compreende’ diz-me mais acerca do emissor do que do receptor. O ‘as pessoas não aceitam’ diz-me mais acerca da irrelevância da tua linguagem e da inteligência do teu receptor, do que da incredulidade das pessoas. Alguém me dizia há uns tempos que ‘se quero um bolo com uma forma diferente, tenho de usar outra forma’. Há quem tente mudar a forma do bolo mudando a farinha, mudando os ingredientes, mudando o tempo de cozedura, mudando tudo. Menos a forma. Se quero que o bolo não seja redondo, não posso usar uma forma redonda. La Palisse a trabalhar.

Anos de linguagem incapaz, incorrecta, demasiado técnica e previsivelmente exclusiva. O que nos fecha a todos debaixo de uma espécie de redoma… triste história esta…

Sunday, June 20, 2010

Reflexões de Hospital

Sinto o Santa Maria como se fosse parte da minha vida. Escrevo isto ao 10º dia de estada na ala de Cardiologia, Piso 8, cama 15, do Hospital de Santa Maria. Noutro lugar qualquer, 10 dias seriam um somenos na minha vida, mas não o são certamente aqui. E desde essas terríveis dores no peito que me assolaram na madrugada do dia 11 e que me trouxeram aqui até ao dia de hoje, muita coisa se passou.

Conheci o Sr. António, o Sr. Agostinho e o Sr. Eusébio. O Sr. António é uma cópia quase estranha do meu avô materno, na medida em que passa todo o tempo a meter-se comigo e eu a meter-me com ele. Com ele o tempo ficou mais leve, certamente, e penso que ele dirá o mesmo da minha companhia. Os seus 81 anos bem-dispostos e de uma vida que muito tem para contar aconselhavam talvez um homem mais grave, mais triste, menos divertido...mas não. Mesmo com uma hérnia de 7 kg que o acompanha...mesmo depois de a sua esposa ter morrido de cancro há 30 anos...mesmo depois de ter sido internado com problemas cardíacos...uma bela lição de vida para alguns dos maricas que aí andam (eu!) e que se queixam porque chove, porque faz sol, porque está vento, porque, porque, porque...Ficou prometido um almoço nas Caldas da Rainha, lugar onde mora. E irei com o maior dos gostos ter com este caríssimo amigo que me tornou os dias mais leves. O Sr. António deverá sair amanhã. Eu talvez 3ª ou 4ª. Mas fico com uma bela recordação destes tempos por aqui.

Conheci esta equipa da ala de Cardiologia do Hospital de Santa Maria. E fiquei abismado com o profissionalismo, a capacidade e o amor que esta gente dedica ao que faz. Saio daqui com maior respeito pelos médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar. Trabalham desalmadamente, muitas vezes em turnos de 24h ininterruptos, e ainda têm tempo para servir (é mesmo essa a palavra de ordem aqui, servir...) os doentes. Eles também tornaram a minha estada aqui bem mais leve, e bem mais fácil de levar.

Conheci ‘A Cabana’, que finalmente consegui ler com calma. E fiquei de tal forma estarrecido com esta história que a ela voltarei certamente. Não pensei que outro livro além da Bíblia conseguisse definir alguns pontos da natureza de Deus de forma tão bela, e simultaneamente tão clara e tão real. Ao ler, senti-me imbuído de uma necessidade de me aproximar d’Ele, de uma certeza de que mais do que ter de, eu quero participar daquele relacionamento que ‘A Cabana’ mostra. À pergunta ‘será que não sabia eu que Deus é assim?’, a resposta é sim. Mas vê-lo escrito e descrito daquela forma tão bela dá-nos um bálsamo extra para nos achegarmos a Ele mais confiantemente. E é sobre isso que trata o cristianismo...

Conheci-me quem me rodeia, os meus amigos, familiares e conhecidos. Mais uma vez percebi que a minha família é ‘à séria’. Tenho uma esposa ‘à séria’, uns pais ‘à séria’, uns irmãos ‘à séria’, uns tios ‘à séria’. Gente que tem o mesmo sangue que eu e que se preocupa comigo e não está descansado enquanto eu não estiver bem. Aos meus pais e esposa uma vénia. Estão sempre comigo e têm-me da do os mimos todos que pudesse imaginar... tive também mais uma prova de que tenho na minha igreja verdadeiros irmãos, que se preocupam comigo e me amparam nos momentos mais difíceis, em apoio e oração. Uma palavra à minha equipa de Artes, que faz a melhor homenagem que poderia fazer em continuando diligentemente com o seu trabalho semanal excelente e capaz. Sei que me têm nos seus pensamentos e orações, e isso é fantástico. Mas mais fantástico ainda é saber que continuam o trabalho de forma excelente. Esse é o maior gozo que me poderiam dar. Conheci também melhor os meus amigos e aqueles que estão comigo. Recebi dezenas, centenas de mensagens de força, e de ânimo. Agradeço-vos profundamente por cada uma delas, porque me ajudaram a olhar em frente sem desanimar nos momentos em que as coisas pareciam piorar um pouquinho mais. Desde as mensagens de amigos mais chegados, até aquelas de pessoas que não conheço, mas que por alguma razão souberam da minha situação e decidiram dar-me um pouco da sua força. Muito e muito obrigado. E a todas as igrejas, comunidades e grupos dos quais recebi relatos das suas orações por mim, muito obrigado!

Por último, posso dizer que me conheci a mim mesmo. Não sei porquê mas quando somos colocados perante uma situação destas a nossa cabeça dá muitas voltas. Estou certo de que algum propósito houve nisto, mas ainda estou a descobri-lo aos poucos. Apesar de ainda não conhecer esse propósito na totalidade, esta estada aqui deu-me a oportunidade de me conhecer melhor, de olhar para mim próprio e analisar-me naquilo que tenho sido, mais do que naquilo que tenho feito. E mais uma vez reparei que tenho deixado que o fazer se sobreponha ao ser. E senti uma chamada para ser mais verdadeiro. Não que seja mentiroso, mas no sentido da coerência, na medida em que devo ser o primeiro a ser, e não apenas o primeiro a fazer. Tenho de ir mais fundo nas minhas convicções. Tenho de ir mais fundo nas minhas motivações. Acima de tudo, tenho, eu e todos nós, de nos preocuparmos menos com o sentido estético do cristão e do cristianismo e mais com a clareza e objectividade da mensagem de Cristo. Daquele que era, que é que há-de vir. Daquele que ‘é o que é’.

Friday, June 4, 2010

Um (des)Governo merecido

Nota prévia: perdoem-me a rispidez da escrita, mas aqui está um dos temas que me aflige verdadeiramente...

É um desígnio nacional. Fazemos pouco mas falamos muito. Afinal, falamos de um país onde péssimos políticos dão lugar excelentes comentadores, mas onde o contrário nunca foi visto. Porquê? Das duas uma: ou é cultural, ou fruto de alguma coisa que nos deitam na comida todo o santo dia...

É uma característica quase transversal à cultura portuguesa este fala que fala, mas nada faz. Falamos muito, faríamos muito melhor se estivessemos no lugar deste ou daquele, injuriamos dia sim dia sim quem nos lidera/governa/dirige. Já escrevi que cada um tem o (des)governo que merece. E cada vez mais creio nisso. A mudança de comportamentos tem de deixar de começar no outro, e tem de começar a ter início em mim. Problema 1: somos extraordinários a colocar nos ombros dos outros a responsabilidade pelos problemas que temos em mãos. Problema 2: enquanto não assumirmos pessoalmente os problemas que nos afligem, dificilmente poderemos resolver algum deles. Eu sei que a culpa é do governo (e depois deste será do próximo, e antes deste foi de todos os outros que o antecederam). Problema 3: o que criticamos é exactamente aquilo que faríamos (vai a aposta?), portanto sejamos mais francos e menos hipócritas (aquilo que acusamos toda a gente de ser). Problema 4: somos mestre no preso por ter cão e no preso por não ter...cortou-se 5% no salário dos políticos? Vergonha, deveria ser mais! Não se cortou? Vergonha, não são capazes de abdicar de um cêntimo que seja!

Enquanto português compreendo o quão difícil é governar um país de descontentes compulsivos que, no entanto, pouco fazem na sua vida diária para resolver os descontentamentos próprios. Há sempre um desígnio qualquer que impediu, que não ajudou, mas nunca houve culpa própria. Creio que todos concordamos que são necessários menos paladinos da opinião, e mais gente na linha da frente a fazer algo de novo acontecer. A minha pergunta é em que linha estamos nós? Na primeira, dando a nossa opinião (que até pode ser relevante, mas que não passa de uma opinião) ou na linha frente dando o corpo às balas? Parece retórico este cenário, mas não o é. Estamos à espera do nosso vizinho para fazer o bem, ou fazêmo-lo apenas porque queremos fazer o bem? Somos nós um polo de mudança, de melhoria do mundo que nos rodeia? Somos nós verdadeiramente algo de novo, ou apenas mais uns desencantados e rabugentos velhos do Restelo, infelizes com tudo o que se passa à nossa volta?

Qual é a tua posição? Em que linha estás hoje?